data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)
Declaração se deu durante inauguração da loja de número 134 da Havan em Santa Maria, no último sábado
Não se pode isentar o povo de responsabilidade quando alguém notório - seja um político, um empresário, um líder religioso - diz algo que choca e que causa indignação e, mesmo assim, ele é colocado em um pedestal. É o caso do empresário Luciano Hang que, no último sábado, destilou acidez e ódio contra as universidades federais do país e o funcionalismo público. Os aplausos e as risadas de quem endossou tamanho disparate lembra, em parte, a sofisticada sociedade alemã - o que não é o caso da nossa - que referendou e validou as barbáries do regime nazista. Lá atrás, os alemães se mostraram coniventes e deram um cheque branco ao Führer e o desfecho, bem, sabemos como foi.
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O empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, ao dizer que as universidades públicas do país formam "zumbis, idiotas e comunistas" faz terra arrasada ao que há de mais sólido em uma nação de iletrados: o saber, a pesquisa e o conhecimento produzidos nesses espaços.
Há, sim, certa verdade no que Hang diz que as universidades federais são redutos da esquerda. Mas isso é parte da democracia e de ambientes onde o contraditório precisa conviver de forma (quase) harmônica. O que não se pode ter é a prevalência de um lado só. Aliás, a UFSM mesmo, por exemplo, tem estudantes ligados ao Clube Farroupilha - que nada mais é do que uma associação de acadêmicos liberais -, o que é benéfico à própria universidade.
E é assim que tem que ser: DCE e Clube Farroupilha, ambos com seus pontos de vista e concepções de mundo e sociedade, devem ter na UFSM o espaço para o embate democrático de ideias.
Agora, dizer que alguém cada vez que estuda mais, ela fica "mais idiota" é tão absurdo que beira ao surreal. Tão inimaginável e, isso sim, idiota, quanto alguém querer ir a uma das lojas Havan para "contemplar" uma réplica da estátua da Liberdade, chamarisco utilizado em muitas filiais. O que, para tristeza de muitos, não é o caso de Santa Maria, que não teve tamanho privilégio.
Também o que espanta é a retórica, presa à Guerra Fria, em que parece estarmos sendo acossados por uma ameaça comunista. O que nos ameaça é o fantasma do desemprego - herança do lulopetismo - e que, até aqui, tem sido combatido por Bolsonaro com bravatas. O que é de se espantar é com os zumbis, que vagam pelas ruas de nosso país consumidos pela pedra do crack, e que não contam com políticas eficazes de Estado para ajudá-los.
O comunismo, felizmente, ficou pra trás. Quem embarcou nessa aventura, segue colhendo as agruras de tal escolha. É como a vida. No cenário ideal, pintado por Hang, os "perfeitos" do Ensino Superior - que são citados como exemplo de uma faculdade privada - remontam ao ideário que os nazistas tinham para sua sociedade (a tal raça ariana).
E aos desavisados, ou aqueles de má-fé, vale lembrar que, no começo do regime nazista, muitos dos alemães colaboraram com a perseguição a judeus e comunistas. Tanto que é dito que a Gestapo - a temida polícia secreta do Reich - só teve tamanho sucesso graças à ajuda dos cidadãos comuns (e todos, claro, eram de bem).